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Discurso esquizofrênico em "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância"

  • Professor Isaias Ildebrand
  • 3 de dez. de 2016
  • 15 min de leitura

Resumo:

Este artigo apresenta questões ligadas ao contexto geral da esquizofrenia, contendo informações que nos ajudam a compreender os comportamentos e sintomas que o esquizofrênico apresenta, os tipos de esquizofrenia existentes, trazendo também uma análise do filme “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” que trata de um ator que desenvolve a doença e passa a apresentar comportamentos esquizofrênicos, delírios visuais e auditivos. O objetivo é analisar os fatores envolvidos na esquizofrenia, e como o indivíduo portador do transtorno está inserido na sociedade, então através do conhecimento diminuir o preconceito contra essas pessoas, vistas como perigosas nos casos mais graves, quando o indivíduo acaba apresentando reações divergentes do padrão social, apesar de que em alguns casos podem passar despercebidos. A causa específica ainda não foi descoberta por cientistas, mas o distúrbio pode ser associado a pré-disposição genética, fatores antropológicos ou o uso de substâncias tóxicas. Por volta de 1% da população tem o diagnóstico da doença, mas acredita-se que esse número possa ser muito maior. Constatamos que apesar de todos os fatores negativos, também existem lados positivos na esquizofrenia. Um deles é, geralmente, o aumento significativo da capacidade criativa, e a relação com a genialidade. Sendo descobertos vários pintores, escritores, músicos e até matemáticos que possuem esse transtorno. A medicina já evoluiu bastante sobre o assunto, promoveu melhorias na qualidade de vida dos afetados e criou vários medicamentos. Porém, a ciência ainda não tem algumas respostas fundamentais para que se aprofundem pesquisas afim de suprir todas as incógnitas.


Palavras-chave: Esquizofrenia. Psiquiatria. Análise filmográfica. Distúrbio mental. Delírios.


Trabalho desenvolvido por Aline Milena Flach, Bruno Ruan Correa de Lima eCamila da Silva Pereira nas aulas de Seminário Integrado, alunos do 3º ano do Ensino Médio Politécnico, sob orientação do Professor Isaias Ildebrand.


Fonte: https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/birdman-sera-exibido-em-sao-paulo-com-trilha-sonora-ao-vivo




Introdução

O presente artigo abordará questões de cunho informativo explicativo sobre os fatores envolvidos na esquizofrenia, referenciando uma analogia com o filme “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”. Tal pesquisa tem como objetivo geral analisar os processos de desenvolvimento da esquizofrenia e como ela afeta a sociedade, promovendo e adquirindo conhecimentos que facilitam a compreensão sobre a influência antropológica perante o indivíduo esquizofrênico. Os objetivos específicos são o detalhamento dos fatores psicológicos e biológicos envolvidos no funcionamento da esquizofrenia; a compreensão sobre de que forma o indivíduo esquizofrênico convive no âmbito social e a análise do discurso esquizofrênico dentro do filme “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, do diretor Alejandro González Iñárritu, consagrado com o Oscar de Melhor Filme no ano de 2015.

Apresentar a sociedade os fatores responsáveis pelo desenvolvimento e os sintomas da esquizofrenia é de suma importância para o esclarecimento e possível diagnóstico de casos notáveis dentro do âmbito familiar e social, uma vez que se há confusões e estereótipos sobre os sujeitos esquizofrênicos taxados como loucos, alienados e psicóticos. A elaboração deste artigo se dá de forma básica visando adquirir e gerar conhecimentos, tratando-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa, exploratória e explicativa, afim de proporcionar maior familiaridade com o problema identificado, através do estudo de caso de forma ampla.

Há ainda a probabilidade da relação da esquizofrenia com outros distúrbios psicológicos como a depressão, o autismo e a bipolaridade. Desse modo, percebemos a amplitude do tema em questão e a insuficiência de pesquisas aprofundadas, uma vez que o presente assunto, por se tratar da mente humana e por possuir uma grande variabilidade e evolução, exige extensiva complexidade.

Esquizofrenia: o grito de uma voz em silêncio


O conceito de esquizofrenia ainda sofre alterações relevantes, englobando a medicina, a filosofia e a religião, desse modo, sendo possível analisar diversos contextos dessa desordem psico-afetiva. Historicamente a primeira conceituação ligada indiretamente ao distúrbio esquizofrênico surgiu em 1896, quando o psiquiatra alemão Emil Kraepelin denotou os sintomas cognitivos da demência precoce, nos quais se reuniam uma variedade de síndromes psicóticas, e a evolução do quadro para a deterioração psíquica e de personalidade.

Um novo conceito surgiu, no entanto, quando o psiquiatra suíço Eugen Bleuler substituiu o termo “demência precoce” por “esquizofrenia”, que se referia à divisão da mente e, para Bleuler, também a divisão da personalidade. Kaplan & Sadock (1984, p. 263) afirmam que a contribuição fundamental de Eugen Bleuler foi a introdução de sintomas primários, que compreendiam perturbações do afeto, de escolhas e de associações, e sintomas secundários, como alucinações, delírios, negativismo, desaparecimento da sensibilidade e/ou imobilidade súbita.

Os fatores envolvidos no desenvolvimento da síndrome estão assimilados tanto a fenômenos biológicos quanto à influência antropológica. Contudo, a medicina atual ainda não define com exatidão a causa fundamental da esquizofrenia. Entre os aspectos orgânicos estão a predisposição genética, os fatores bioquímicos, endócrinos, tóxicos e neurológicos. Já nos aspectos psicossociais destacam-se o conflito intrapsíquico, a comunicação patológica e interações familiares anormais.

A esquizofrenia não é um distúrbio isolado, mas sim uma soma de comportamentos psicossociais com ambivalência intensa e desordem da relação entre realidade e pensamento. Os principais sintomas desse distúrbio estão, portanto, ligados à soma de tais comportamentos, como o isolamento social, a desconexão da fala, o relato de vozes agindo na manipulação da mente e a constante sensação de perseguição.

Segundo Philip Solomon (1975, p. 189), o distúrbio esquizofrênico divide-se em distintas vertentes, associadas aos tipos de sintomas do paciente e das quais se pode destacar a esquizofrenia simples, caracterizada pelo desinteresse nos relacionamentos pessoais e personalidade apática, com raros delírios; a esquizofrenia hebefrênica, caracterizada pela introversão e a inacessibilidade do paciente para com os demais, superficialidade emocional, delírios fragmentados e acentuação ao possível estado vegetativo; a esquizofrenia catatônica, na qual o sintoma mais nítido são as anormalidades motoras, apresentando-se com períodos de mudez ou imobilidade súbita e atividade excessivas; a esquizofrenia paranoide, que pode apresentar relação com o autismo e manifesta-se geralmente mais tardia, caracterizada pelas frequentes alucinações e delírios, além da desorganização da personalidade e hostilidade; a síndrome esquizo-afetiva, relacionada à acentuados distúrbios de humor bipolar, tais como exaltações e depressão, e perda de contato com a realidade; e a esquizofrenia indiferenciada, marcada por frequentes distúrbios do pensamento, comportamento e afetividade, contudo, conforme as reações progridem, esse tipo de esquizofrenia passa a ser definida por um dos tipos já descritos acima.

A epidemiologia da esquizofrenia aponta que aproximadamente 1% da população mundial é diagnosticada com o distúrbio. Contudo, não há um padrão biológico ou personalidade especifica para a ocorrência da doença, o que dificulta o processo de identificação dos casos. Para Eugen Bleuer a incidência da esquizofrenia divide-se em dois pontos: a esquizofrenia declarada, na qual se englobam apenas os casos diagnosticados pelos médicos psiquiatras e tratados de forma hospitalar; e a esquizofrenia latente, que considera o total de episódios com sintomas esquizofrênicos estando ou não sob tratamento. É provável que a esquizofrenia latente ultrapasse os casos declarados, elevando consideravelmente os índices mundiais da doença. Dessa forma, analisando a porcentagem da população que apresenta uma reação esquizofrênica em algum momento de sua vida, boa parte da sociedade está suscetível à algum grau de esquizofrenia.

As crenças religiosas também discorrem acerca dos transtornos psicóticos, o que, por vezes, gera grandes debates entre a religião e a ciência. Para Sigmund Freud, criador da psicanálise, as religiões possuíam raízes ilusórias, e que predispunham o indivíduo a fugir da realidade. Já a doutrina espirita explica o quadro esquizofrênico como a alteração da consciência, a partir da interferência de um espírito obsessor que possui alguma ligação com o indivíduo e age em seus pensamentos e expressões como forma de cobrança.


Como a esquizofrenia afeta o indivíduo


Para Channon (1990) a esquizofrenia é uma das psicoses mais antigas da sociedade, porém ainda se tratando de um dos maiores mistérios da medicina psiquiátrica. O individuo afetado por essa doença apresenta uma perda da assimilação entre a realidade e os delírios provenientes da debilidade psíquica. Por muitos anos a esquizofrenia teve um diagnóstico ligado exclusivamente à loucura, excluindo, marginalizando e afastando o paciente da família e da sociedade. Contudo, o atual desenvolvimento tecnológico da medicina possibilita ao esquizofrênico uma melhor inserção no âmbito social, contribuindo para um tratamento qualitativo.

Os delírios são um dos principais sintomas pelos quais se pode diagnosticar distúrbios esquizofrênicos. Geralmente ocorrem de forma efêmera e são caracterizados pelo próprio paciente como a irradiação, inserção ou roubo dos pensamentos. Podem ocorrer também delírios de personalidade, nos quais o indivíduo esquizofrênico personifica personagens históricos ou de grande importância social. A pessoa portadora dessa síndrome também pode adquirir variações bruscas de personalidade, ora apresentando-se de forma retraída e excêntrica, ora sendo extrovertida e alegre.

Os delírios parecem começar com uma vaga consciência de uma forte mudança no pensamento ou emoção, seguindo por uma súbita revelação de seu “significado”- o paciente, subitamente, adquire certeza de novos “fatos”. (CHANNON, 1990)


Segundo Bleuler, há quatro sintomas principais da esquizofrenia, que são:

  • Distúrbio da associação: o indivíduo perde a capacidade de associar um pensamento ao outro. O que provoca pensamentos confusos e ilógicos.

  • Autismo: o paciente pode apresentar alucinações e delírios e se preocupa com eles, principalmente com os problemas originados pelo seu imaginário. Conforme esse sintoma aumenta pode vir a interferir na percepção da realidade.

  • Ambivalência: apresenta sentimentos, atitudes e ideias contraditórias em resposta a situações ou pessoas. Um sintoma que pode estar presente em pessoas sem a síndrome, mas no paciente esquizofrênico ocorre com mais intensidade.

  • Afetividade incongruente: as reações emocionais não condizem com os sentimentos e seu pensamento. O humor se torna exagerado. Ocorre a dificuldade de expressar sentimentos e emoções, indiferença e superficialidade.


O paciente esquizofrênico pode apresentar os seguintes sintomas secundários:

  • Alucinações: podem apresentar-se de vários modos; auditivas, são as mais comuns, apresentadas como vozes que vem de fora. Podem vir em forma de crítica sobre o paciente, ameaças, dando-lhe ordens, ou podem escutar seus próprios pensamentos em voz alta. Alucinações visuais, são os menos comuns na esquizofrenia, surgem em conjunto com outros sentidos. Ou tácteis, gustativas e olfativas.

  • Delírios: interpretação diferente de um estímulo sensorial, como uma mancha ser confundida com um rato indo na direção ao indivíduo. Delírios de perseguição, onde o paciente esquizofrênico acredita que estão prejudicando ou espionando ele, esses geralmente vem acompanhados com delírio de grandeza em que ele acredita ser muito importante, pois tanto está sendo feito para conspirarem contra ele.

  • Ideias de referência: o paciente tem a impressão de que as pessoas estão falando e gesticulando sobre si próprio.

  • Despersonalização: ter a impressão de ter a sua personalidade sendo separada ou se perdendo de si mesmo.

  • Negativismo: o individuo esquizofrênico faz o contrário do que se pede.

  • Ecolalia: repetir a fala, frases ou ideias de outro indivíduo.

  • Ecopaxia: repetir o movimento de quem ele observa.


A esquizofrenia também pode afetar o indivíduo de outra forma, expandindo sua criatividade e estando diretamente ligada ao campo das artes. Essa ligação vem sendo já empregada desde a Grécia Antiga, quando Platão referiu-se à inspiração poética como loucura divina e Aristóteles afirmou que a genialidade anda juntamente com uma dose de insanidade.

No que tange à criatividade, ela tem sido considerada há vários anos como o misterioso traço que explica a extraordinária capacidade dos gênios. No entanto trata-se de um construto definível e mensurável, mas ainda demanda mais investigações científicas para sua melhor definição operacional. O que parece central em qualquer uma de suas definições é o elemento de originalidade, que se refere à predisposição para gerar respostas novas e pouco comuns. (RESENDE, ARGIMON, 2011)

Apesar de estudos apontarem que a criatividade e a esquizofrenia demandem o uso dos mesmos canais cerebrais, é perceptível que um paciente em período de manifestação aguda dos sintomas esquizofrênicos, na qual se necessita a hospitalização, é divergente de alguém em período artisticamente criativo.

No entanto, alguns artistas relatam experiências perceptivas e sensoriais incomuns no momento de suas inspirações, podendo até mesmo interpretar o mundo ao seu redor com a supervalorização de aspectos da realidade. Ao longo da história é possível ver que há uma taxa aumentada de indivíduos esquizofrênicos relacionados à arte, e procura-se encontrar a relação entre a patologia com a arte com base em dados empíricos. Court et Castelnau (2003 apud RESENDE, P.1, 2008) e Netlle (2001 apud RESENDE, P.1, 2008) propuseram, com base em suas pesquisas, que sem o polo oposto da genialidade, a loucura, o desenvolvimento do mundo teria sido bem mais lento, segundo tal perspectiva, o preço da genialidade seria psicopatologias como a esquizofrenia, mas isso é imprescindível para o desenvolvimento de toda a civilização. Burch, Pavelis, Hemsley e Corr (2006 APUD RESENDE, P.2, 2008) usaram testes de criatividade e personalidade para analisar obras de artistas visuais e não artistas e encontraram mais traços esquizotípicos nas obras dos artistas.

Tais traços encontrados indicam vulnerabilidade a patologia e são caracterizados por ideias incomuns, divergentes e a falta de desejo de sociabilização, mas a presença de traços esquizotípicos ainda não favorecem a criatividade artística por si só, é necessário que venham acompanhados por características individuais como inteligência, persistência, entre outras. Além de fatores ambientais que também propiciam ao desenvolvimento criativo do indivíduo.

A esquizofrenia e a criatividade podem ter ligações genéticas segundo estudos de grupo de cientistas que observaram pequenas variações genéticas no grupo de 86 mil pessoas que podem duplicar a chance de desenvolvimento de patologias psicológicas. Após essa pesquisa eles realizaram mais uma com 1000 pessoas relacionadas às artes e descobriram que esse grupo de pessoas possuíam 17% mais chances de desenvolver patologias mentais. Segundos tais cientistas, a criatividade surge a partir dos mesmos genes que aumentam a predisposição a doenças psicológicas.


O esquizofrênico perante a sociedade


Segundo dados de 2009 da Organização Mundial da Saúde, a esquizofrenia afeta cerca de sete em cada mil pessoas adultas, com os primeiros sinais do distúrbio aparecendo entre 15 e 35 anos. Muitos dos pacientes esquizofrênicos convivem socialmente de forma efetiva, sem que os demais indivíduos percebam a presença do transtorno.

Contudo, há ainda preconceitos com os pacientes sintomáticos, que necessitam de um tratamento constante e especializado. Por possuir sintomas mais agudos, o esquizofrênico sintomático comporta-se de forma divergente à de indivíduos considerados saudáveis. As características do comportamento social desses pacientes podem envolver isolamento, em que ocorrem comparações entre si e as outras pessoas, causando-lhe sensação de ser diferente dos demais; alucinações podem surgir para preencher o vazio social. Há também o terror, marcado a partir de alucinações em que o indivíduo sente que seus pensamentos, sentimentos e ações estão sendo controladas e ele está sendo perseguido.

Além disso, o portador da esquizofrenia é emocionalmente muito frágil e pode ser facilmente magoado ao perceber comportamentos agressivos ou rejeições. Desse modo, é de suma importância a inclusão social da pessoa com esquizofrenia, desde o papel fundamental da família até a criação de vínculos de amizade. Essas relações ampliam a qualidade de vida do indivíduo e podem, por vezes, até mesmo atenuar sintomas presentes no distúrbio.

Um dos papéis sociais mais importantes para que ocorra a amenização da esquizofrenia é a inserção do paciente como trabalhador. O trabalho é uma fonte importante para a melhora da autoestima e diminuição do sofrimento intrapsíquico. A partir da socialização proveniente do âmbito profissional, é possível a aproximação com novas pessoas e o desenvolvimento da capacidade de fazer amigos, o que suaviza a solidão. O cônjuge também apresenta um papel fundamental para o aumento da qualidade de vida da pessoa esquizofrênica, sendo uma fonte de segurança e cuidado para quem desenvolveu a doença.

Outros fatores sociais podem influenciar de modo geral a esquizofrenia, tais como o estresse, o local em que o indivíduo está inserido, sua própria bagagem cultural e acontecimentos que marcaram sua história de vida. O esquizofrênico perante a sociedade é visto como anormal, no entanto, há grandes exemplos de pessoas que se destacaram socialmente por seu trabalho, mesmo apresentando sintomas esquizotípicos. Um dos exemplos mais famosos é o do matemático norte-americano John Forbes Nash, que já na infância foi considerado extremamente antissocial, sendo mais tarde diagnosticado com esquizofrenia, o que não o impediu de construir uma história de vida brilhante, sendo vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1994 e um dos mais importantes matemáticos do mundo.



Estudo realizado


A partir da revisão bibliográfica sobre a esquizofrenia foi possível fazer uma analogia do filme “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” do diretor Alejandro González Iñárritu, lançado no Brasil em 2015.

O filme nos mostra a história da carreira de Riggan Thomson, que havia atuado como um herói chamado Birdman, mas mudou o curso de sua carreira para atuar em uma peça na Broadway. O filme destaca as características egocentristas e esquizofrênicas do protagonista, não dando a razão, diretamente, para seus comportamentos apresentados durante a obra, mas apenas seu contexto psicológico.

O filme trata o protagonista como centro de toda a atenção, ou seja, o filme é uma obra com caráter egocentrista, levando a uma impressão de que estamos perseguindo o protagonista durante toda a obra, nos levando a observar cada comportamento tendo em conta o contexto psicológico do personagem devido à fatos históricos revelados sobre o contexto do filme e devido às vozes que o personagem ouvia frequente e repetidamente em sua cabeça, que são sintomas clássicos de esquizofrenia.

A cena que ocorre logo aos cinco primeiros minutos de filme mostra a característica egoísta e antipática do protagonista quando ele sabota um equipamento de filmagem que cai na cabeça de um ator, o qual ele queria retirar da peça por motivos próprios e devido a esses comportamentos inconsequentes e egoístas que Riggan acaba tendo muitos problemas com seu empresário.

A cena que ocorre aos trinta e sete minutos de filme demonstra o péssimo relacionamento que Riggan tem com a filha, mostra também a situação de contraste entre a forma como sua filha não suporta o comportamento egoísta do pai e também a forma como Riggan não suporta o vício de sua filha em drogas, o conflito inicia-se quando ele sente um cheiro estranho e logo encontra um cigarro de maconha escondido.

A cena que ocorre à uma hora e dezessete minutos de filme inicia um diálogo entre Riggan e sua filha, durante esse diálogo Riggan acaba por deixar seu ego de lado e realizar uma autoanálise em seu comportamento paternal, ele percebe como seu comportamento era inadequado para a educação de sua filha e é possível perceber um comportamento de afeto e empatia.

A cena que se inicia à uma hora e vinte oito minutos mostra delírios e alucinações de Riggan, onde as vozes de sua personalidade interna incita-o a alucinar, mostrando mais uma vez um processo sintomático da esquizofrenia que causa a distorção da realidade.

A cena que ocorre à uma hora e quarenta minutos de filme é o clímax da atuação de Riggan, é o momento onde ele tenta criar uma atuação realística ao ponto inconsequente, ele representa o suicídio da cena com uma arma de verdade, para causar grande comoção em seu público e dar um salto em sua carreira, tal inconsequência mostra a repressão do medo, que deveria ser expresso naturalmente para a sobrevivência.

A cena final que ocorre em torno de uma hora e cinquenta minutos de filme mostra um desfecho que novamente faz referência aos sintomas da esquizofrenia, onde o protagonista começa a delirar e acredita que pode voar e isso acaba levando-o ao suicídio, ainda que esse não fosse seu objetivo.

Portanto, o filme representa a personalidade contida de uma pessoa esquizofrênica, mostrando traços comuns como egocentrismo e antipatia e mostrando também processos sintomáticos como alucinações e delírios, formando uma ideia de como uma pessoa esquizofrênica pensa, comporta-se e qual o potencial dela de sofrer tragédias a partir dos sintomas da esquizofrenia.


Análise de dados


Com a presente revisão bibliográfica a partir da literatura psiquiátrica foi possível perceber que a esquizofrenia possui algumas vertentes distintas, sendo a mais comum a esquizofrenia paranoide. Em relação à incidência da doença identificamos que ela ocorre na sociedade em cerca de 1% da população de forma declarada, podendo atingir uma porcentagem expressivamente maior conforme os casos em que o indivíduo não é efetivamente diagnosticado, mas apresenta sintomas de forma perceptível.

Observamos que a causa fundamental do transtorno ainda é um mistério para a medicina, não sendo viável definir um fator biológico responsável pelo distúrbio ou uma personalidade predisposta a desenvolvê-lo. A esquizofrenia só é diagnosticada observando-se os comportamentos da pessoa e sua interação social. Dentre os sintomas é possível destacar a presença de delírios, que influenciam respostas inadequadas do indivíduo perante estímulos antropológico, e o isolamento afetivo.

Constatamos que perante a sociedade o indivíduo esquizofrênico ainda é visto com preconceito, mesmo que sua inserção no âmbito social seja de extrema importância para uma melhor qualidade de vida e atenuação dos sintomas. Percebemos também que a esquizofrenia se desenvolve nos mesmos canais cerebrais ligados a criatividade, por isso há uma ligação entre psicopatologias e momentos de genialidade. Desse modo, é de suma importância trabalharmos a revisão do preconceito para com os pacientes dessa doença para diminuirmos a exclusão social e ampliarmos a qualidade de vida de quem é diagnosticado com algum grau de esquizofrenia.

Analisamos, dentro da obra do filme “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” a visão e os comportamentos da pessoa com sintomas esquizofrênicos. Através disso, percebemos que a personalidade do paciente pode variar entre períodos de extrema fragilidade e momentos egocêntricos, bem como a predisposição artística e a vulnerabilidade às tragédias provocadas, muitas vezes, a partir dos delírios de grandeza e perseguição.


Considerações Finais


Segundo Channon (1990, p. 75), a síndrome esquizofrênica ainda só é diagnosticada observando experiências características e sinais comportamentais manifestados por um indivíduo. Apresentar à sociedade os fatores responsáveis pelo desenvolvimento e os sintomas da esquizofrenia é de suma importância para o esclarecimento e possível diagnóstico de casos notáveis dentro do âmbito familiar e social, uma vez em que há confusões e estereótipos sobre os sujeitos esquizofrênicos, frequentemente vistos como loucos e constantemente sendo isolados do meio em que conviviam.

Ainda há a necessidade do aprofundamento nas pesquisas em torno dessa psicopatologia, visto que as perguntas acerca das causas fundamentais para a evolução da esquizofrenia permanecem sendo incógnitas. Contudo, é possível notar que a medicina avançou consideravelmente no tratamento e na amenização do distúrbio, promovendo, atualmente, a provável melhora na qualidade do indivíduo que carece de hospitalizações crônicas ou efêmeras. Os principais tratamentos para a reabilitação do paciente envolvem a farmacoterapia e a psicoterapia, sendo ambas necessárias para a obtenção de resultados satisfatórios.

É considerável destacar que a esquizofrenia se apresenta em diversos graus de intensidade. Em alguns casos a presença dos sintomas não interfere no convívio, já em casos com maior gravidade podem haver riscos iminentes para a saúde física e psicológica do indivíduo. Neste caso, o esquizofrênico desenvolve potencial para o suicídio, homicídios e automutilações. O episódio mais famoso de automutilação é o de Van Gogh, que cortou sua orelha direita e que para muitos era declaradamente esquizofrênico.

Há ainda a probabilidade da relação da esquizofrenia com outros distúrbios psicológicos como a depressão, o autismo e a bipolaridade. Desse modo, percebemos a amplitude do tema em questão e a insuficiência de pesquisas aprofundadas, uma vez que o presente assunto, por se tratar da mente humana e por possuir uma grande variabilidade e evolução, exige extensiva complexidade.


Referências


BIRDMAN ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). Direção: Alejandro G. Iñárritu. Produção: Alejandro González Iñárritu, Arnon Milchan, James W. Skotchdopole, John Lesher. Estados Unidos da América. Produção: Fox, 2014. Duração: 119 minutos.


ELKIS, Helio. A evolução do conceito de esquizofrenia neste século. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2000, vol.22, suppl.1, pp.23-26. ISSN 1516-4446. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462000000500009>. Acesso em: setembro de 2016.


FLAHERTY, Joseph. Psiquiatria: diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.


GRIGOLATTO, Tatiane. A influência dos papéis sociais na qualidade de vida de portadores de esquizofrenia. Caderno de Terapia Ocupacional. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, v. 22, n. 1, p. 195-203, 2014.


KAPLAN, Harold; SADOCK, Benjamin. Compêndido de Psiquiatria Dinâmica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.


KOENIG, Harold G.. Religião, espiritualidade e transtornos psicóticos. Rev. psiquiatr. clín. [online]. 2007, vol.34, suppl.1, pp.95-104. ISSN 0101-6083. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000700013>. Acesso em: outubro de 2016.


POWER, Robert A. et al. Polygenic risk scores for schizophrenia and bipolar disorder predict creativity. 8 de Junho de 2015. 4 páginas. Nature America Inc. 2015.


RESENDE, Ana Cristina. Esquizofrenia e criatividade artística. 2008. 4 páginas. III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008.


SOLOMON, Philip. Manual de psiquiatra. São Paulo: Atheneu Editora, 1975.


SZKLARZ, Eduardo. Esquizofrenia – Realidade partida. Super Interessante, 2016. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/esquizofrenia-realidade-partida/>. Acesso em: setembro de 2016.

 
 
 

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